Corps ne peut plus en effet s´écrire aujourd´hui qu´au pluriel. (LE BRETON, 1992, p.87)

Logo que comecei a aprender o francês e precisei fazer a tradução de textos acadêmicos
, entendi que
a palavra corpo na língua francesa não é aplicada
no singular, é como óculos em português, não existe só um lado.
Quer dizer que corpo não é um só?! Bem, isso como tudo na vida, depende muito do ponto de vista da análise, mas tenho achado essa reflexão, digamos, pluralista, do corpo ou corpos, extremamente conveniente e convincente para nossos tempos numéricos.

No livro que terminei hoje e já citei aqui,
Le Breton traz inúmeras imagens e caminhos para os estudos envolvendo o corpo, em perspectivas tão vastas que por vezes se contestam. Só de pensar nos campos científicos que direcionam interesses ao tema, podemos ter uma noção da amplitude da discussão: Artes, biologia, psicologia, sociologia, antropologia, filosofia, teologia, etnologia, história, medicina, química, geografia, arquitetura ... só por alto, pois são os que me lembro agora.

O corpo(s) de hoje pode se transformar "a gosto do freguês" se pensarmos nos apelos do esporte, saúde e estética. Pode ainda se miscigenar em transplantes médicos que já usam órgão artificiais e de animais, ou ainda, nas experiências da arte que questiona gêneros e formas.

Aliás, gênero é algo que os
queer buscam dissolver, em uma fervorosa batalha de minorias que questionam as identidades sexuais e procuram seus direitos diante de sociedades pouco flexíveis e que raramente acompanham a velocidade das mudanças em fluxo. Enquanto isso, a publicidade continua no seu esforço comercial de encaixotar modelos de desejo, apresentando anúncios em que comportamentos são atrelados a imagem do feminino ou do masculino e mesmo quando simulam uma mistura, percebe-se facilmente como é rasa a manipulação de sentido em função de um produto.
A filosofia olha o cenário, e reflete, reflete, reflete em torno de uma só pergunta: Mas, afinal, o que é o corpo? A resposta parece cada vez mais nebulosa.

Para mim, novas leituras terminam sempre em novos elementos agregados, o que me faz sentir cada vez mais distantes dessa definição. Talvez, simplesmente não deva buscá-la. Se escapamos do cartesianismo para que continuar insistindo em perguntas e respostas, dualismos e metáforas. Sempre preferi as redes de sentido e o movimento.

Acho que posso começar arriscando nas negativas. Corpo não é máquina. Corpo não é alma. Corpo não é carne. Corpo não é matéria. Corpo não é obsoleto. Corpo não é magia. Corpo não é obscuro. Corpo não é deus, nem poeira estelar. Não se pode fechar o sentido, mas recortar é preciso...

Esse esforço é duro, pois trata então de eliminar alguns corpos e escolher um corpo, algo que estou aqui dizendo que não é nada interessante. Não é bem assim, dá pra fazer uma reflexão sobre corpoS até chegar onde quero. Mas, o que é mesmo que quero? A princípio quero parar de ir as bibliotecas, pesquisar a palavra e descobrir que tem mais um monte de coisa que ainda não li, um monte de caminhos a tomar, isso é muito angustiante. Sigo com meu esforço. Enquanto isso, andei buscando inspiração pelas ruas, fotografando CorpoS que estão por aí pra dizer que existem, que estão ali pra comunicar o pensamento de outros sobre o tema.
As imagens construídas por quem, em um dado momento, colocou no mundo seus pensamentos através de uma imagem particular do corpo, uma representação particular, talvez me ajudem a construir também as minhaS. E sim ela será plural, disso ao menos já sei!
E quem quiser me ajudar, complete a frase: Corpo não é...
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