Em 1670 havia em Paris 3 trupes de teatro rivais: uma do Hôtel de Bourgogne, outra do Marais e a do Palais-Royal, então dirigida por Molière. As duas últimas fundiram-se, em 1673, depois da morte desse célebre diretor. Sete anos depois, por um decreto do rei Louis XIV, que pretendia "aperfeiçoar" as representações, formou-se uma única trupe a Comédie-Française que só ficou assim conhecida em 1682, quando tinham os Comédiens-Italiens como maiores rivais. Foram os quase quatro séculos dessa história que só comecei a contar, que deram o tom charmoso e entusiástico para minha primeira visita à Comédie-Française, programa que fiz hoje. Mas, antes de falar sobre ele abro um parêntese a respeito da "espetacular" morte de Molière, isso porque é interessante saber que o diretor passou mal em cena, interpretando o Doente Imaginário, mas ao contrário do que muitos pensam, ele morreu em casa na mesma noite e não no palco. E é fato, teve o último sacramento recusado por dois padres.
Já sobre o programa, assisti L´opéra de quat´sous ou, traduzindo, a Ópera dos Três Vintens. Na verdade, a peça tem o formato de teatro musical, o que a diferencia das óperas tradicionais.
No grande elenco 24 atores e cantores (incluindo estudantes da Comédie-Française), além de 14 músicos e uma enorme produção. Aliás, esse último quesito me chamou bastante atenção. Como estava no balcão do teatro, pude ver toda a ensaiadíssima movimentação das trocas de cenários e figurinos que faziam mesmo parte da cena, a ponto de em alguns momentos ficar difícil distinguir quem era quem. Foi lindo de ver a organização desses bastidores e a maneira cuidadosa como isso foi revelado ao público, pois, com tanta gente dividindo o palco, imagino que esse exercício tenha sido extremamente trabalhoso de ser feito. Era mesmo uma dança de objetos e pessoas.
A obra encenada foi escrita por Bertold Brecht em 1928, com o título inicial de La Canaille e não conseguirei fugir da frase clichê para dizer que o assunto continua muito atual e que mudamos tanto e nada ao mesmo tempo. Por isso, o título do post. Está tudo lá: miséria, poder, sedução, desejo... gêneros da condição humana e, por sorte, outro deles também não foi esquecido: o bom humor.

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