Adoro ir a Opéra e assistir a todas as mentiras românticas que aquele lugar sabe contar!
Nesta noite fiquei bem pertinho do céu de Chagall, em uma das cabines do 4º andar do prédio, onde só os bilhetes de visibilidade reduzida podem levar. Tudo é mesmo questão de ponto de vista, vejam o que vi de tão perto. 220m² de huile sur toile!
O pintor impressionista Marc Chagall (1887-1985) recebeu, em 1963, do então Ministro da Cultura André Malraux, a incubência de criar um novo teto para o Palais Garnier. A notícia gerou inúmeras controvérsias e manifestações na imprensa, uma vez que uma classe conservadora se opunha ao fato de entregar um grande monumento Parisiense a um artista judeu de origem russa e por demais moderno para se harmonizar ao espírito do edifício carregado de histórias.
Chagall confessou sua indignação a um amigo: "C´est incroyable à quel point les Français peuvent détester les étrangers. Vous passez chez eux le plus gros de votre vie, vou prenez la nationalité française, vous donnez vingt tableaux pour leur musée d´Art moderne, vous travaillez pour rien, vous décorez leurs cathédrales et ils vous détestent toujours autant. Vous n´êtes pas des leurs. Ils en a toujours été ainsi."
Malraux não cedeu às críticas direitistas e o pintor, a princípio receioso, acabou se lançando no gigantesco trabalho. Um ano e 220 quilos de pintura mais tarde, Chagall subia até a cúpula na altura de seus 77 anos de idade para dar os últimos retoques a obra. São cinco as partes que a compõem, divididas por cores dominantes: vermelho, verde, azul, amarelo e branco. Os motivos homenageiam à Mozart, Wagner, Moussorgsky, Berlioz e Ravel; além de atores e bailarinos célebres.
Em 23 de setembro de 1964, em noite de gala, a sala ainda escura recebeu 1100 convidados para a apresentação do ballet Daphnis et Chloé. Antes disso, em homenagem a Chagall, a orquestra dirigida por Manuel Rosenthal interpretava os últimos movimentos da Symphonie Jupiter de Mozart. Foi quando, bruscamente, ascenderam o enorme lustre de cristal e as palmas de direita e esquerda eclodiram em direção aos sonhos artísticos estampados no céu de L´Opéra Garnier.
No outro dia o New York Time anunciava "Pour une fois, les meilleures places étaient au poulailler". Imagino eu, que isso aconteça mais vezes do que o previsto. Ontem mesmo.


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