dimanche 23 janvier 2011

143ème jour: Philippe Decouflé

 

Philippe Decouflé faz dos corpos espetáculo. Músculos rústicos, robustos, entrelaçam-se e modelam-se às magias tecnológicas, às taticas circenses, à alta música que envolve os sentidos, à performance apurada, ao non-sense. A cena, que agilmente se transforma, ganha olhares que por vezes se perdem na gama de signos que mescla e faz confundir o limite entre o real e o virtual. Em um crescente artístico contínuo, mais alongado que o óbvio, o desejo do coreógrafo parece ser o de transportar o espectador a outra "dimensão". Talvez aquela do interior do corpo do outro, a qual não temos jamais acesso direto, a do pensamento, da imaginação.
Quase duas horas depois dessa inebriante tentativa, surge aquilo que mais me surpreendeu. Quando se apaga a magia e ascendem-se as luzes, vê-se tão somente, corpos.Tão potentes corpos. Suados, marcados, tombados. Nem tão harmônicos, nem tão brilhantes, nem tão, tão... Quase me esqueci. São só corpos. Dados ao movimento.    

Deslocando, levo meu corpo pra casa enquanto a reflexão se fixa no visto e sentido.

No metrô, o corpo pedinte lança-se no vagão. Ocupa-o. Deformado em curvatura, arrasta-se em uma embriaguez inarredável que dilui os limites da polidez francesa e dirige ao solo os olhares passageiros. A moça que exibe o corpo descoberto para a noite, incomoda-se em ser notada.
- Entenda, não se filtra o olhar alheio, no ensejo: turvo, curvo, duro.
Escapa. Avizinha-se a um corpulento de orgulho à mostra, que em um breve meio giro de pescoço em direção àquela exibição quebradiça, aceita sem palavras o pedido também mudo de guarita. Dizem-se.
- Entendam. É só um corpo. Consumido, despedaçado, cenário de alguém e não palco pra vocês.

Todos corpos, só(s). E isso é tanto. Ser/ter corpo é tão, tão.


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