mardi 10 mai 2011

253éme jour: Corps de Clarice

Revisitando minha dissertação me deparei com essa imagem de "corpo nosso desconhecido de cada dia" que acho de uma agudeza sem tamanho.


“A noite foi feita para se dormir. Para que uma pessoa nunca assista o que acontece na escuridão. Pois com os olhos cegos pelas trevas, sentada e quieta, aquela senhora mais parecia estar espiando como o corpo funciona por dentro: ela própria era o estômago escuro com seus enjôos, os pulmões em tranqüilo fole, o calor da língua, o coração que em crueldade jamais teve forma de coração, os intestinos em labirinto delicadíssimo – essas coisas que enquanto se dorme não param, e de noite avultam, e agora eram ela. Sentada com seu corpo, de repente tanto corpo.” (CLARICE LISPECTOR, A maçã no escuro, 1998, p.231)    




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