dimanche 19 juin 2011

295éme jour: Les motifs musicaux

O bom do risco é se surpreender. Foi assim mais esta noite em que apostei na programação do Agora, a qual desconhecia totalmente. Na verdade, Stockhausen, o homenageado desta edição do festival, continua sendo um mistério para mim. Imagino que mesmo para os especialista da música seja difícil compreender a "sobrenaturalidade" do compositor que afirmava ser "un simple poste de réception de signaux extraterrestres qu´il se contente de retranscrire."

Muito além de questões entre o céu e a terra o que me fez curiosa em relação a sua obra foi a enorme ousadia de alguém que criando fórmulas, acaba por desfazer formas e, porque não, normas. Como exemplo, podemos pensar nos elementos alinhavados em Klang, sua última obra que assume tons ritualísticos e com a qual ele pretendia ilustrar as 24 horas do dia, atribuindo, inclusive, uma cor para cada uma delas (a partir da teoria de Wilhelm Ostwald, prêmio nobel de química em 1990), com as quais deveriam ser compostas as roupas que os intérpretes vestiriam. O princípio da  composição atrela-se a unidade do tempo musical definida pelo compositor em um ensaio publicado em 1960. Nesse texto ele afirma que o som é determinado por três parâmetros essenciais – altura, duração e timbre – cada um deles compreende uma percepção temporal diferente, mas ao mesmo tempo indivisíveis e estreitamente ligadas umas as outras através da escala. Dentre a série de, necessariamente, 24 notas criadas para o ciclo completo, destaca-se a 13º hora chamada Cosmic Pulse, que marcaria a metade de um dia e, por isso, é a mais brilhante e iluminada. A obra foi interrompida na 21º hora do dia, pela morte de Stockhausen que ironicamente, já a havia nomeado: Paradies (Paraíso).

Por todas essas curiosidades, dispostas no folder de apresentação do concerto, a noite de hoje não poderia me apresentar nada de ordinário. Para compor melhor o meu cenário vale acrescentar aqui o fato do concerto ao qual assisti ter acontecido na Eglise Saint Eustache, uma belíssima catedral gótica construída entre 1532 e 1640 e ainda, que o gigantesco órgão inédito aos meus ouvidos foi tocado durante a apresentação. Sempre quis escutar isso, foi muita novidade para se absorver em uma só noite, fora as dezenas de instrumentos que não sei dar nome. Arrisco-me a dizer que em meio aos diversos objetos voadores não identificados que giravam na ponta dos braços esticados dos músicos, escutei claramente um apito de marreco! Não duvidem, são fórmulas de se desfazer.

Volto ao meu livrinho de colas para descrever a programação da noite que não foi feita só de Stockhausen, na verdade cada composição teve sua inspiração fantástica:

1.  Karlheinz Stockhausen: Klang 5, Stunde - Harmonie. Klang 6, Stunde – Schönheit. 
2. Eric Maestri: Celestografia, musica musicans.
3. Helmut Lachenmann: Mouvemment (-vor der Erstarrung, 1982-1984) 
4. Francesco Filidei: Ballata (2011)
5. Franz Liszt: Fantaisie et fugue sur le nom de B.A.C.H 
6. Harrison Birtwistle: Cortege, a ceremony (2007)

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