vendredi 23 septembre 2011

Acidentadinha da Estrela

Começo este post com um fragmento de memória de infância do qual ainda duvido um pouco da veracidade... 


Eu era pequena e estava doente, tinha faltado a escola e estava deitada na cama da mamãe, vendo desenho animado. O telefone ao meu lado tinha uma extensão até o escritório de casa onde minha mãe trabalhava. Eu podia pegá-lo a qualquer hora para fazer pedidos, era mágico. 
- Mãe, to com fome!
- E logo ela  apareceu com empadinha e suco natural de laranja!
- Cama, TV, sem escola, desenho, ar condicionado e empadinha as 4 da tarde no meio da semana?! Gente, eu to doentona!

Voltando ao mundo real, já crescidinha.
Adoro a sensação que o vento traz quando estou andando de velo pelas ruas de Paris, talvez seja mesmo por um retorno a infância, uma liberdade quase absurda de se ter aos 33 anos. Pela noite nem tenho pressa, é lindo ver a cidade iluminada, sem precisar disputar com carros e ônibus e podendo escutar o carinhoso sussuros do vento que parece contar segredos.

Mas, era dia, mochila nas costas, RIB nas mãos, burocracia resolvida. Estava atenta para não errar o caminho que fazia sozinha pela primeira vez, e estava veloz, muito confiante, talvez demais um pouco... Hum, é por ali, lembro-me dessa subidinha para carros, já passei lá. Pensa rápido tá chegando. É para carros! Acho que dá. Ah, vou arriscar. Mas, assim meio de lado? O pneu tá um pouco murcho. Tá rápido. Pensa rápido. Ah, dá sim, eu vou tentar. Apagão.  

Meu cabelo não voa. Ai, nossa! Eu to no chão. Ih, meu seguro saúde venceu! Gente, to tonta. Ai, ta doendo. Minha cabeça! Que galo! Fica em pé. Isso é arnica, ponha tudo debaixo da língua. Potinho azul. Ah, obrigada, muito gentil. Vou ligar para os bombeiros. Celular na mão. Não, moço! Ai meu deus, em francês. Saco. Eu to bem. Lágrimas rolando. Não, toma o resto da arnica você não tomou tudo. Potinho Azul. Merci. Eu vou ligar sim. Celular. Não! C´est pas grave. Aiiiiiiiiii. Eu vou guardar a velo vou pegar um ônibus. Pronto to bem. Aiiiiiiii tá doendo. Lágrimas. Onde tem uma estação de velib? Ali, rua xxxxxx, soletra x x x x. Você tem pra quem ligar? Eu tenho um amigo eu vou ligar. Obrigada, eu to bem. Aiê, aiê. Vou guardar a velib. Não chama os bombeiros não, moço. Vou pegar o ônibus. Subo na bicicleta, medo. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Maldita rua cheia de vogais. Cadê? Que doooor!       

- Oi Gustavo!
- Não, to médio bem. Cai da bicicleta, bati a cabeça. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Ta doendo muito.
- Não, eu não sei onde eu to não. Ihhhhhhh. Vou perguntar.
- Moça... lágrima, lágrimas, lágrimas... Onde eu to? Como chama aqui? Por favor.
- Denfert. Gustavo, eu to te esperando em Denfert!
- No banco da praça, lágrimas. lágrimas, lágrimas. Aiiiii ta doendo muito.
- Gustavo eu to aqui!!!!
- Colooooo! Que delícia, lágrimas...
- Não, não tive mais nada é só a cabeça, sem enjoos, nem visão embaçada.
- Eu vou pegar um ônibus.
- Sem pressa, bebe água. Médico de colo, que delícia!
- Calma, chora, põe gelo. É um hematoma. Sim, a cabeça também fica roxa. Cabeleira! Colo!
- Meu ônibus, super obrigada meu querido amigo.
- Ônibus, lágrima, celular, Carol?!
- Ônibus, ahhh deixa eu dar meu lugar pra essa senhora idosa.
- Ônibus, lágrimas, celular, vizinha vc tem gelo?!
- Ônibus, lágrimas e uma doce senhora me dá a mão. Vai passar, minha filha!!
- Que linda! Vou contar tudo. Eu cai de bicicleta, tá doendo, já fui ao médico, eu to bem... Ai saco, falar francês agora.
- Coloca x x x x x x. Ah, sim obrigada, muito gentil a senhora, vou passar sim. Cheguei, vou descer.
- To chegando, consegui. Tonta. Casa, cama. 
- Casa, gelo, vizinha, fofa! Torta também, que delícia! Que bom!
- Ah cataflan é bom mesmo. Obrigada.
- Ah, que sorte essas pessoas legais perto de mim.
- Até que deu tudo certo, aiiiiii que dor.

Ah, agora eu to sozinha em casa né. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Será que compro um capacete? Ou recarrego minha navigo? Skype, família. Ah, eu to bem, só cai. Desliga. Skype, não mãe meu olho é roxo mesmo. Skype, acidentadinha da estrela, viu quantas pessoas te ajudaram! Ah, melhor ver assim né. Fome, ai minha mandíbula. Ihhh machucou também. Será que eu desço? Ai minha cabeça, sozinha né. Aiiiiii. Difícil dormir. Que que eu faço agora? Nossa tá doendo, mais neosaldina. Dorflex?
Pai?!
Mãe? Empadinha?





2 commentaires:

  1. Tadinha... ai menina sei bem o que é estar homesick e sick ou mesmo tempo... não é pra qualquer uma... Numa hora dessas que vemos que estamos sozinhas no mundo mas os amigos são TUDO! Melhoras aí... bjossss

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  2. Ei Grazi, tudo bem?
    Adorei o post!
    Li e continuei lendo. Me perdendo por um tempo aqui, caminhando entre suas estorias... Bravo pelo blog!
    um beijo da Camila

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