mercredi 7 septembre 2011

Louise Bourgeois, poética da solidez.


Esta artista franco-americana teve vida longa, despediu-se da contagem do tempo em 2010 com 98 anos. Demorou a ser notada, mas teve prazo para sacar e expor suas duras aflições mundanas esculpidas em mármore, bronze, sucata, madeira e o que mais lhe doesse a dureza de uma traumática infância não superada. Remetendo-se, frequentemente, ao desgosto de menina sem amor de pai, Louise elabora peças, aparentemente obscuras em uma forte atmosfera de enfrentamento e rancor.

Mas, ouvindo-a em meio a solitude e solidez de seus objetos, enxerguei a armação de uma beleza. Em entrevista, ela comentava sobre suas "cells", série de instalações enclausurantes, que diziam sobre diferentes medos geradores de emoções de dor. Em "Eyes and Mirror" (1994) uma estrutura que está mais para câmara de tortura do que para objeto artístico, depara-se com um gradeado de ferros que envolve uma série de espelhos, vidros e formas em mármore que lembram gigantescos olhos. Olhos estáticos e espelhos móveis que lhe fazem clamar: Existem várias realidades, várias realidades!

 

Em seguida, a velha senhora de olhar escaposo, tira o mito de Narcísio da cartola para dizer sobre como ele se sufoca pela perda do senso da realidade. E, como se tivesse o dom de resolver em poucas palavras questões que o existencialismo humano não pode apreender, Louise continua em sua afirmativa, que tento replicar em aproximação: Existem várias realidades, é preciso aceitar que não vemos a mesma coisa e que nunca saberemos o que o outro vê. É preciso aceitar as várias realidades. Não há conflito nisso, há ajustes e o denominador comum é a flexibilidade.

Não é bonito pensar neste reflexo do sólido? Em "Eyes and Mirror" Louise buscou flexibilidade em pedra para se libertar da dureza da consciência. Abriu os olhos para mirar e admirar refrações que é tudo o que podemos alcançar e aceitar no outro.  

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