dimanche 26 juin 2011

301éme jour: Francis Bacon

No começo de julho irei à Opéra assistir ao espetáculo de dança "L´anatomie de la sensation"  do inglês Wayne McGregor. Para a criação do espetáculo o diretor parte de uma subjetivação sobre o universo do pintor Francis Bacon retomando, através do movimento, as puras cores, formas e tensões das telas. O coreógrafo envolve-se com as disformidades e tensões dos corpos do pintor para questionar os limites da sensação. Este diálogo me intrigou ainda mais, no momento em que, fui atraída pela maior das figuras que Bacon já criou: ele mesmo.  

Bon vivant, debochado, crítico, ele apresentava sempre razões simples para questões complexas nas entrevistas que vi e li. Durante a conversa com um jornalista, regada a boas doses alcoólicas, ele vai se definindo como otimista do nada, alguém com sorte, que não acredita em nada e que segue a deriva o tempo entre a vida e a morte. Não mede palavras quando questionado sobre obras que não gosta, ao dizer sobre Mark Rothko solta algo como: Há uma grande sala dedicada a Rothko na galeria. Se quiser ficar depressivo é só ir pra lá e ficar vendo aquele marrom sem vibração, a obra dele me escapa! Ao mesmo tempo Bacon se diz incapaz de explicar as origens de sua arte e prefere quando seus quadros não são admirados. Parece simples, mundano. Cativante, sem dúvida. 

No entanto, a clareza das palavras não se revela em suas telas, ao contrário, é mesmo curioso escutá-lo dizendo sobre sua busca pela luminosidade, por cores vibrantes pois, ao menos em meu primeiro contato com sua obra, a sensação acionada está em um universo oposto, diria que quase obscuro. Em outra curiosa passagem da entrevista o repórter pergunta sobre sua obsessão pela imagem da boca que aparece em uma sequência de quadros. Bacon responde que as adora, que gostaria de pintá-las com a beleza das paisagens de Monet que se sente atraído pelas lindas cores, pelo movimento entre a língua e os dentes... Então, o repórter o interrompe lembrando que a maioria de suas bocas é escura e ele afirma: É mesmo, eu não consegui fazer plenamente! Vale lembrar que sua inspiração para tais quadros veio do encantamento por um livro sobre doenças bucais.

Talvez o homem que preferia o "lado ruim" da tela - uma vez que após uma crise financeira passou a usar a parte de trás do tecido -, gostasse também de representar a face bruta do mundo. Estou verdadeiramente curiosa para ver no que dará a transposição entre os corpos de Bacon e McGregor.  


Nova aquisição do Museu do Pompidou

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